A Manifestação das Sombras

Ainda por procurar a passagem, o novo peregrino torna-se
então, jogadores do tempo, onde os impulsos elétricos da inconsciência lapidam
as memórias existentes levando-os, até à travessia, criando estratégia de
lembranças... rumo ao desconhecido, porém, sempre amparados por seus guardiões.
E, desde que se formou, das duas metades do espaço tempo,
recriando-se em outras partes, deixando memórias e levando consigo outras.
Agora, jaz imbuída de apenas memórias, com as mãos vazias, coração oculto,
carrega apenas o necessário. Distraída, levada pelo tempo, entre o inconsciente
e o nada, redescobrindo as suas próprias fontes onde as imagens sempre
aparecem. Sem tato, sem apego, tens agora as memórias das nove fontes sagradas,
as que nasceste contigo, as partes que guardam o perfume do tempo e que só ele
é o seu eterno guia.
Velando como se fosse uma vestal, segura nos olhos a
percepção, nas mãos, que carregam vazias, o som das conchas dos oceanos, e com
o guia que maneja a sua carruagem, leva-a para lugares meio tom, com a
haste erguida do tempo, sendo levada pela vontade, pelo desejo de se encontrar
num lugar que o seu coração oculto reprise.
Os fios que ainda tecem o inconsciente, planejam, jogam com
os impulsos que reagem na penumbra, as luzes sempre moldam lugares, imagens que
se refazem, criam lembranças, a eletricidade ainda vai e volta, numa
intensidade muito além. E, desses circuitos que se assimilam os flashes, as
sombras recriam situações. Mantém-se, sempre como o observador, não diz para a
mente, mas se situa na imersão pré-moldada.
Então, torna-se a peça de seu próprio jogo, onde o tempo
ainda quer recolocá-la, partindo de sombras e imensidades de luz para a viagem
que não entende, tornando-se a protagonista de seu sonho guiado.
És a joia do ourives, que ainda por ser lapidada, serás
sempre mexida, até que ao deixá-la pronta, serás aninhada a lã ou a seda. Terás
o seu peso e medida, o grau que a compôs ao nível de existência e serás
colocada no dedo de valor. Na qual se assemelha a Vênus. Mediante, o que se
lavrou, a sua sentença serás guardada no arquivo do tempo por proximidade de
olfato. Seu perfume serás só teu, a fragrância que por decreto és original para
cada alma. A fragrância dos que enfrentaram a vida com justiça, com dever e
sinceridade. A fragrância dos que se juntaram aos heróis, dos que lutaram com
as suas próprias adversidades, que lutaram consigo mesmo por toda a vida e que
ainda há de enfrentar outras camadas para seguir sem apego a jornada de seu
herói. Essa fragrância torna-se parte de seu próprio eu. Seu adversário de
nascimento, seu aliado e seu companheiro.
Esse, dará a mão para as suas, antes vazia, pelo som das
conchas e a levará para o lugar de origem.
Contudo, a jornada até a travessia, implicará em uma
cidade interior repleta de energia, na qual pelo tempo exato, todas as almas
devem seguir...
Lá, os dois guardiões lhe, aconselharão a observar, então
mãezinha, olhe sempre para a frente, segues quem por decreto, pode
lhe guiar, que jamais estará sozinha. A escuridão é parte de nós como a luz que
tudo acende às coisas. Tudo aí está criado, como o inverso da vida, é só
observar...seguir a pouca claridade, onde se vislumbra as águas claras e
transparentes, por onde seguir, deixarás mais memórias. Para que em outras
vidas ou culturas, leve-as consigo como prova de passagem.
A liberdade é a forma mais intensa do emocional...
O início da jornada!